segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O filho da puta

Uma das piores raças que há é a do filha da puta. O mau caráter. Trabalho num ninho de cobras escrotas. Bem viscosas e meladas, aquelas bem venenosas. Tudo bem, eu não deixo de ser um sacana bêbado, mas pelo menos eu não nego. Não me vendo por qualquer dinheiro. No meu emprego, você dá ou desce. Dá para subir e desce, para, depois, dar. Dar com a cara na parede, porque são muitos caciques para o mesmo partido. A bem da razão, partido é o ambiente onde ganho o pão e como a carne. E bebo debaixo da mesa.

Todas as mulheres do local onde trabalho são putas. Umas são somente na empresa. Outras estão sempre grávidas, porque preferem fazer o pé-de-meia por conta própria. Há as pequenas que me afeiçoo, que gosto mesmo um bocado. Aquela magrinha de peitos, ah, que peitos, digo, peitos formosos: empinadinhos. E como também é gente boa, é gostosa duas vezes. E tem outras, mas não importa, acontece que nem para isso o lugar onde trabalho serve. É tanta encheção de saco que parece que não tenho mais pau. Parece suruba de português, aquela que a gente só entra com a bunda.

Gosto de chegar atrasado, para dar impressão de que sou ocupado. Veio de blazer meio amassado, para parecer que sou importante (ao menos) em outro lugar que seja, mas que não seja onde trabalho. Penteio os cabelos rigorosamente para o lado, mas o direito, com gel, para logo depois revirá-lo com a mão esquerda, para dar um ar de que estava com pressa, mesmo atrasado. É divertido alterar essas idiotices que ninguém nunca vai perceber mesmo, mas eu realmente acredito que se premeditar meus hábitos para alterá-los, no fundo acaba por vir a ser nada. De fato, me ocupa.

Quando deixo a pasta ao lado do computador, rapidamente busco a xícara de café que está três mesas à minha direita, perto da porta que dá ao corredor. Rapidamente lembro que preciso comer alguém essa semana, porque já é segunda-feira. Volto à mesa do local onde trabalho, mas não tive tempo de escapar da moça da limpeza. Sim, porra, leva esse jornal. Não, caralho, não terminei o café. Puta merda, se a faixineira é assim, imagina como é o chefe.

Faz pouco tempo que trabalho no local onde trabalho. Uma vez por semana muda a diretoria. Projetos especiais, projetos de projetos especiais, nova pegada, novos rumos, nova linguagem, nova pirocada na bunda, nova enrabada. Essas coisas que acontecem nos locais onde trabalhamos. Desde que comecei neste emprego, já sacanearam uns cinco amigos. Se pegarmos esse número e multiplicarmos por dezessete, será exatamente o número de coordenadores e diretores desta firma. Isso, apenas nesta sucursal.

Após ler os primeiros relatórios do dia, afrouxo a gravata imaginária, solto um ruído rouco pela garganta, e coloco os óculos bem devagar. Faço cara de babaca, igual aqueles que trabalham do outro lado do local onde trabalho, e tiro da gaveta o livro que estou na metade. Afasto o teclado e passo a ler o romance enquanto espero meus colegas chegarem. Sim, sempre sou um dos primeiros a chegar, mesmo atrasado. Meu horário é diferente, justamente para que eu pegue o pepino logo de cara. É foda. Mas dou meus goles da rama e fica tudo certo, xará, porque meu nome não é Maria.

Apesar de tudo, gosto de algumas pessoas, mas só um pouco. Lá é bom porque exercito meu raciocínio e bebo café de graça. O lanche é uma merda, mas minha mesa tem telefone e posso escrever minhas canalhices sem ninguém me importunar. Quando tenho que trabalhar, realmente, faço algumas ligações ou mando que os garotos temporários executem as tarefas, em troca de alguma mentira. Dou pernada mesmo, de ruim. É o que fazem comigo, então ensino como sacanear e tripudiar logo, mas nunca sem deixar de rir. É do caralho essa porra.

3 comentários:

  1. Evoé, baco abençoado!!! Salve o senhor Mefisto!! Vida longa ao "Medidas e Pesos!"...Abaixo os filhos e os netos da puta!

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  2. Obrigado, Claudio. Abaixo a canalha toda! Aprochegue-se, rapaz. E abre uma gelada pra este velho. Saudações!

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